R.E.S.P.I.R.A.  programa baseado em Mindfulness

O programa de formação R.E.S.P.I.R.A.

 

O que significa o acrónimo RESPIRA?


Adoro utilizar acrónimos para simplificar, resumir e expor informação. Há outros acrónimos que também utilizo e que foram desenvolvidos por diferentes autores, por exemplo os objetivos SMART, ou o programa a ROSA.

O programa RESPIRA nasceu da necessidade de organizar uma formação que interligue e explique de uma forma simples, dinâmicas e compreensível áreas de educação para a saúde com a mindfulness, na vertente da promoção da saúde. Cada letra do acrónimo respira tem vários significados relevantes, que serão explanados no desenvolvimento das sessões e dentro desses significados outros conceitos estão implicados.

Os 7 conceitos do programa RESPIRA estão interrelacionados, cada um complementa ou reforça os outros.

Nesta explicação do significado de cada letra do RESPIRA farei também uma ponte para as 7 atitudes de SER mindfulness do programa de *Jon Kabat Zinn descrito e traduzido do livro Full Catastrophe Living (Kabat-Zinn & Hanh, 2009).

Na primeira sessão faz-se a explicação dos 5 S das sessões de mindfulness: Sigilo; Sinceridade e autenticidade; Subjetividade - aceitação da opinião do outro; Singularidade - todos somos diferentes; Silêncio - respeitar os tempos do outro.

Cada sessão tem entre 90 a 120 minutos e todos os participantes serão instruídos na sua prática individual e a perceber o que melhor se adequa e integra na sua vida diária e a forma de pratica da meditação formal ou informal.



R – RESPIRAÇÃO E A REALIDADE TANGIVEL E ILUDIDA


A RESPIRAÇÃO está na base de todo o trabalho da prática da mindfulness, é a âncora e em simultâneo a base da prática. A respiração influência todos os outros sistemas e é influenciada por eles, e como diz o Jon Kabat Zinn “é a maestrina dos outros ritmos e a ponte entre o consciente e o inconsciente”.

 A respiração só é possível no momento presente, sem julgamentos e é fundamental para a sobrevivência. pode-se considerar que a respiração é uma realidade tangivel da vida.

Neste item da REALIDADE TANGIVEL E REALIDADE ILUDIDA, irei fazer a distinção entre REALIDADE TANGIVEL que é mais ou menos aceite universalmente e que está a acontecer no momento presente, como por exemplo o nome a idade e a data de nascimento, ou o facto de eu estar sentada a uma secretária a escrever este texto e a REALIDADE ILUDIDA pela ilusão enganadora que é percecionada pela mente e recebida pela interoceção, a partir de informação vinda do corpo, e é desencadeada pelos registos da mente (podem estar no corpo ou no cérebro pd)  ou por situações pontuais do estado fisiológico do corpo (ex. calor, frio, sede, fome) e em que os mecanismos fisiológicos reagem como se estivessem numa situação de perigo, pelos sistemas de ataque, fuga ou imobilidade. A distinção entre estas duas REALIDADES é fundamental para gerir a vida, e não deixarmo-mos levar pela enxurrada de informação caótica vinda do corpo/mente.


O não consciente 

"Não há qualquer problema em deixar que a influência não consciente da emoção passada nos oriente, desde que paremos para reflectir com cuidado sobre aquilo que o não consciente nos está a oferecer como opção..."  António Damásio Pag.341 no livro " o livro da consciência"

 

Não julgamento *

"Tudo o que vemos ou ouvimos é categorizado pela mente, reagimos a tudo o que experienciamos em termos do que pensamos ser valioso para nós. Por vezes coisas ou pessoas são julgadas como “boas” porque nos fazem sentir bem, por alguma razão, outras são rapidamente catalogadas como “más” porque nos fazem sentir mal. O resto é catalogado como neutro.”

A respiração em mindfulness deve ser simplesmente observada e libertada, sem julgamento realizando o seu percurso livremente.

 

*Jon Kabat Zinn descrito e traduzido do livro Full Catastrophe Living


E – EMOÇÕES - EQUANIMIDADE


O E é de emoções, mas também poderá ser de EQUANIMIDADE ou de EMPATIA. A compreensão das emoções e da forma como elas se relacionam com a saúde é uma das bases fundamentais do programa. É o reconhecimento e a consciência dos processos fisiológicos e da corporalidade emocional, que permite gerir e entrar num ciclo virtuoso de saúde. Os sistemas de luta, fuga e imobilidade estão na base da compreensão de muitas doenças, disfuncionamentos e dos processos do trauma e é o reconhecimento/consciência desses estados emocionais que promove a equanimidade. O sistema emocional e os sentimentos que lhe estão adjacentes estão intimamente relacionados com a aprendizagem e com os sistemas de sobrevivência. Neste programa e baseado nos trabalhos de António Damásio, farei a ligação e a relação entre os binómios: Raiva – Empatia; Medo – Segurança;  Tristeza – Alegria; Nojo - Paixão


 Não agarrar*

“Tudo o que fazemos fazemo-lo por alguma razão ou com algum propósito. A meditação mindfulness é um estar sem fazer nada, sem querer obter nada, mas paradoxalmente é necessário energia e trabalho. Se nos sentarmos para meditar no sentido de obter isto ou aquilo, reduzir uma dor, ou nos tornarmos melhores pessoas, então estás a julgar que não estás bem neste momento, e a condicionar o resultado que possas atingir, em mindfulness deve-se estar “vulnerável” para o que possa acontecer. Se estivermos em dor, estar com a dor é o melhor que podemos fazer, se estás a criticar, observa essa crítica e julgamento, simplesmente observa.”

 

*Jon Kabat Zinn descrito e traduzido do livro Full Catastrophe Living

 

S – ENTIDOS - SENTIDO DE SI

 

Classicamente conhecemos cinco sentidos (visão, audição, tato, paladar, olfato), mas já alguma vez pensaste como é que o teu corpo sente a dor (sentido nociceptivo) ou como é que reconhecemos a posição do corpo no espaço (proprioceptivo) ou como é que determinamos exatamente que movimento fazer para subir umas escadas (cinestésico) ou ainda como é que mantemos o equilíbrio, se o nosso pé escorrega (sentido vestibular)? Estas capacidades e outras são possíveis graças a outros 8 sentidos que a ciência tem vindo a descrever e a estudar.

A experiência dos sentidos é individual e pessoal, por exemplo ao observares um objeto ou cheirares um apetitoso prato, interpretas a informação , os sentidos são experiências individuais e subjetivas, como refere Daniel Siegel:

os sentidos permitem-nos focar a atenção que na realidade vivemos no nosso corpo e que esta vida corpórea pode ser diferenciada dos outros seres vivos. Os sentidos são a experiência da nossa vida interna, o fluxo de energia e informação dentro do corpo com o qual nascemos, a forma como corporalizamos e experienciamos determina como vivemos”. “As vivências dos sentidos, em conjunto com as experiências subjetivas das emoções e dos sentimentos, memórias e crenças estruturam a história das nossas vidas” (DJ Siegel, 2010).

 

P – PERCEÇÃO E O PRESENTE

O P do acrónimo tem vários significados, PERCEPÇÃO subjetiva da mente e estar no momento presente ou PRESENÇA mas também pode significar POSTURA.

Estar no momento presente é uma das áreas basilares da mindfulness, só se pode aprender estando aqui, só se pode respirar, neste momento, só se pode ser feliz observando o aqui e agora. Neste item desenvolvesse a compreensão de PRESENÇA, pela compreensão da PERCEPÇÃO como capacidade cognitiva da subjetividade da mente e da sua relação com os conceitos de crenças e de hábitos.

Adjacentes aos sistemas mentais do binómio recompensa/castigo integrado nos 3 sistemas fisiológicos da sobrevivência (sobrevivência individual, sobrevivência coletiva e sobrevivência como espécie ou genética/memética) explicando porque é que estar no futuro ou no passado é uma forma de sobrevivência. Também será frisado a relação entre estar no momento presente e os sistemas ecológicos da vida, a mindfulness baseia-se na compreensão da vida como um ciclo de produção e consumo de recursos energéticos.


Quando falo em postura estou a referir não a postura estática mas ao comportamento postural, entendendo assim a postura como um conjunto de estados e movimentos corporais comandados por uma intricada e complexa cadeia de respostas biomecânicas, neurofisiológicas e emocionais. O sistema postural é extremamente complexo, porque influência e é influenciado por todos os outros sistemas. Para se compreender a relação entre a postura e a mindfulness é preciso entender e basearmo-nos num conceito desenvolvido por John Upledger: ” a função estrutura a forma e a forma comanda a função"  e na relevância de reconhecer, aceitar e deixar partir. Nesta sessão irei desenvolver e pormenorizar a importância do movimento consciente, quais os passos a desenvolver e a sua relação com a respiração. O movimento consciente ou exercício consciente são inspirados e é a “mistura” das práticas de yoga, chiKung, pilates e osho.


 Paciência*

“É uma forma de clareza, demonstra que entendemos e aceitamos o facto que as coisas devem de ter o seu próprio tempo para se desenvolver. Ser paciente é simplesmente observar as nossas emoções no corpo como fazendo parte do processo e não realizar ações, demonstrações para fugir delas. Ser paciente é simplesmente estar completamente presente em cada momento, aceitando na sua profundeza que as coisas serão manifestadas no seu próprio tempo.”

*Jon Kabat Zinn descrito e traduzido do livro Full Catastrophe Living

 

 I – INFORMAÇÃO E INTUIÇÃO

 

INFORMAÇÃO entende-se pelos conhecimentos e formação, associado aos sistemas de segurança internos e externos. Neste item irei descrever a importância da literacia em saúde e dos conceitos salutogénicos como fundamentais no paradigma de evolução e crescimento em saúde e que os comportamentos saudáveis podem não estar diretamente relacionados com o conhecimento sobre os fatores de saúde, mas com a capacitação e coerência interna e reconhecimento profundo desses fatores.

Neste item irei também desenvolver a importância dos 13 sentidos (interoceptivos e exterocetivos). A intuição, também denominado o 12º sentido é o resultado cumulativo de informação proveniente da exterocepção, da interocepção, da formação/conhecimento e da cultura. É como “zippar” toda a informação, mesmo a inconsciente, para análise consciente e assim resultar uma tomada de decisão. Então a INTUIÇÃO, é a capacidade de decisão alinhada com os objetivos e o propósito. O 13º sentido ou o sentido do pensamento foi defenido pelo Antonio Damásio como uma das maiores competências de sermos humanos, o seu treino leva ao aumento da capacidade de consciência.

Acreditar*

“Desenvolver a crença em nós próprio, na intuição e nos sentimentos é uma forma de estar no momento presente e de respeitar o corpo. Esta atitude de acreditar nas capacidades é importante em diferentes aspetos da prática, por exemplo na prática de exercícios tal como yoga, se não ouvimos e acreditamos no corpo poderemos ter uma lesão. Por vezes identificamo-nos com professores e achamos que eles são realmente bons, mas é impossível nos tornarmos noutra pessoa qualquer, o mais importante é sermos nós próprios. Quanto mais se pratica a crença em nós próprios, mais facilmente iremos encontrar a verdade nos outros e encontrar a sua divindade.”

 *Jon Kabat Zinn descrito e traduzido do livro Full Catastrophe Living

R – EGISTOS E OS SENTIMENTOS DO SABER SER

António Damásio no livro “O sentimento de si”, fala sobre a forma como os sentimentos são construídos e a relação entre sentimentos e emoções. Sentimento é o resultado da situação vivida (Realidade) da Emoção ou/e Sentido, da informação e da Perceção dessa vivência, resultando o Registo que se organiza e é conhecido pelo sujeito como Sentimento. Então sentimento é a informação conhecida e registada, que estará disponível ao longo do tempo para ser usada na vida, como diz Damásio (2013), no livros “O sentimento de si”:

 

«Estou hoje convencido que a distinção entre emoção e sentimento, a que dou tanto valor em O Sentimento de Si, não foi apenas muito útil para entender a neurofisiologia destes distintos fenómenos mas é também indispensável para compreender o alcance biológico dos sentimentos e o facto de que a experiência mental — e não apenas o respetivo substrato neural — tem, em si mesma, um papel importante a desempenhar na regulação da vida. Sem a possibilidade da experiência mental dos estados do corpo que os sentimentos nos proporcionam, não nos seria possível concentrar a atenção em certos problemas e em certas opções de resposta de modo a aceitar ou formular as melhores alternativas e de forma a rejeitar as menos boas.»

 

Este programa muda o paradigma do aprender a fazer para aprender a SER. Baseia-se na compreensão das competências de aprendizagem ao longo da vida e nos conhecimentos como forma de manter a saúde. Desenvolve as capacidades de foco, atenção e aprendizagem, sabendo que as competências de “neuroplasticidade” são treinadas e necessitam de ser preservadas ao longo da vida.


Neste item farei a bordagem baseando-me nos conceitos de vulnerabilidade, ao (re)nascermos somos vulneráveis ao cuidado dos outros. Vulnerabilidade opõem-se ao controlo, ao domínio e á perfeição. Vulnerabilidade é uma área estudada por Brené Brown, e refere-se à capacidade de nos permeabilizar à aceitação de novas aprendizagem, de compreender que a perfeição não existe e que é através do erro que podemos evoluir. Este conceito também se refere à análise da vergonha e da culpa como emoção social e como formas fundamentais de sobrevivência. A capacidade resiliente de renascer é a premissa e a esperança que podemos sair do sofrimento do passado, que o passado não pode ser revivido no presente e que é possível morrer para a dor e a angústia e renascer para uma vida saudável de crescimento e clarividência.

Outra área do RENASCER é a capacidade de olhar para as diferentes versões do mesmo problema, e ver os comportamentos humanos como motivações não conscientes adjacentes a processos de benefícios e que todos os seres humanos são compassivos e têm competências de ser mindfulness.

Mente de principiante*

“Os nossos pensamentos e crenças sobre o que sabemos impedem de vermos as coisas como realmente elas são. Cultivar mente de principiante, significa que vemos as coisas como se fosse pela primeira vez e assim observarmos cada momento único e de aprendizagem, é como “limpar” velha informação de forma a podermos obter novo e melhor conhecimento”.

 *Jon Kabat Zinn descrito e traduzido do livro Full Catastrophe Living


A – APRENDIZAGEM - ACREDITAR - AMOR OU AUTO-COMPAIXÃO, AUTO-PERDÃO, AUTO-CONCEITO

Não poderei falar em AMOR, sem falar em amor-próprio, capacidade de reconhecer e amar as nossas fraquezas, só reconhecendo e aceitando as áreas onde não temos as melhores competências, poderemos reconhecer e elevar onde somos realmente bons, desenvolver competências de delegar e confiar no outro e reconhecer o fluir da vida. Neste item farei também referência às armadilhas da autoestima, e a subjugação da autoestima aos sistemas de comparação, Competitividade e de conceitos sociais de beleza, de riqueza e de fama. O amor é um sentimento extremamente complexo de se explicar, porque ele tem várias nuances, por isto só é possível ser sentido. Então nesta formação catalisarei a energia do grupo para elevar o amor-próprio de cada participante.


Aceitação*

“Aceitação significa ver as coisas como elas são atualmente, no momento presente. Se estás muito cansado, porque não aceitar esse estado do corpo? Se estás com

excesso de peso e sentes-te mal em relação a isso, se não queres entrar num ciclo vicioso de frustração deverás começar por amar o teu corpo e a ti próprio, não é bom esperar até que estejas no peso que pensas ser o ideal. O agora é o único momento para te amares. Agora é o único momento para tudo, para te aceitares e para mudares. Este ato de aceitação nasce de auto compaixão e de inteligência.”


 Deixar partir ou deixar ser*

“Deixar partir ou deixar ser é uma forma de deixar os outros serem e aceitar as coisas como são. Quando observamos a nossa mente a “agarrar” e a “julgar”, poderemos aconselharmo-nos a deixar partir esses pensamentos, se reconhecemos que estamos a julgar deixamos os pensamentos de julgamento e não os devemos perseguir. Agarrar ou puxar é o oposto a deixar partir ou deixar ser. Deixar partir ou entregar-se é o que fazemos (ou deveríamos fazer) todas as noites, quando vamos dormir. 

Deitamo-nos, apagamos a luz, numa posição sossegada e permitimos que a nossa mente se cale e o nosso corpo se aquiete, se não nos entregamos, não conseguiremos dormir”.

 *Jon Kabat Zinn descrito e traduzido do livro Full Catastrophe Living


Textos de Maria do Céu Santos, inspirada nos ensinamentos de Jon Kabat Zinn, Daniel Siegal, António Damásio e Luís Saboga Nunes.